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25 de Abril de 2024
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    Cuidados Paliativos: RS precisa de uma política

    O Rio Grande do Sul necessita, com urgência, de uma política de saúde voltada aos Cuidados Paliativos, que atenda as demandas de pacientes com doenças crônicas e terminais, um contingente que aumenta a cada dia. Esta foi a conclusão a que chegaram especialistas reunidos na primeira audiência pública da Comissão Especial de Cuidados Paliativos da Assembleia Legislativa, realizada nesta sexta-feira (17.08), no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

    Presidida pelo deputado Pedro Ruas (Psol), que enfatizou o interesse do Legislativo em atuar na busca de uma política nessa área, o encontro teve como anfitriã a médica Lúcia Monteiro dos Santos, coordenadora do Serviço Tratamento da Dor e Cuidados Paliativos do Clínicas, onde os cuidados paliativos foram introduzidos em 1985.

    Na atualidade, várias áreas do HCPA já atuam voltadas a essa medicina que procura dar melhor qualidade de vida aos pacientes/usuários, inclusive com residência médica e, o que é mais importante: na unidade Álvaro Alvim 13 leitos são exclusivos para cuidados paliativos, onde o atendimento é multidisciplinar. A médica destacou que a realização dessa primeira audiência ocorrer no HCPA, valoriza ainda mais o V Seminário de Cuidados Paliativos e III Fórum de Espiritualidade e Saúde promovido neste final de semana (18 e 19/08). Destacou a honra de sediar a audiência e, sobretudo, ver que o Poder Legislativo, através da iniciativa do deputado Pedro Ruas, tem preocupação com tema tão importante.

    De sua parte, a médica coordenadora do centro de Cuidados Paliativos da Universidade Federal de Pelotas, Julieta Fripp fez uma explanação muito objetiva sobre essa especialidade que não trabalha a doença – pois que essa é crônica ou terminal – mas atua em favor do paciente. “Um ser humano que continuará vivendo e dependerá de nós despertar a sociedade para dar uma qualidade de vida melhor para esse paciente”, disse Julieta.

    Ela informou que o Brasil figura, entre os demais países, num grupo 3-A, ou vermelho, onde existe algum atendimento, algum serviço. Na Europa e Estados Unidos estão os do Grupo 4-B, onde o atendimento é pleno. Nessa condição estão, ainda, o Chile (o mais avançado na América do Sul), seguido da Argentina e Uruguai. “Aqui nós temos muitas iniciativas, como estas dos que estão aqui conosco, e mais algumas isoladas pelo Rio grande do Sul e Brasil. Mas corremos contra o tempo, já que a população envelhece muito rapidamente e, como consequência, mais pessoas entram na faixa dos cuidados especiais”, enfatizou.

    A especialista deixou um alerta: “Não podemos tratar os pacientes sem apoio dos familiares, da comunidade, de voluntários e dos estudantes. Mas nós da área da saúde precisamos estar atentos aos sinais. Não podemos esquecer que ao tratarmos um paciente paliativo podemos estar vendo apenas uma ponta de Iceberg. No todo está o emocional, o social, o espiritual, como bem definiu Cicely Saunders (enfermeira inglesa, que dedicou sua vida aos cuidados paliativos, escritora), que nos alerta para a qualidade de morte que a pessoa pode e deve ter”. Segundo estudos, a qualidade de morte do brasileiro é péssima. Em dois estudos com 40 e depois 80 países, o Brasil ficou classificado em 38º lugar e em 42º lugar.

    Para o médico intensivista Rodrigo Castilho, coordenador da unidade de Cuidados Paliativas da Santa Casa de Porto Alegre, o que falta ainda em praticamente todos os ambientes hospitalares, é ouvir o paciente e, em caso deste não ter condições, seus familiares. “Ao ouvirmos temos a chance de também dar informações claras. A partir disso, podemos explicar os tratamentos possíveis para a qualidade do fim da vida. Mas o que acontece hoje, na maioria das vezes, é a realização de exames ou aplicação de tratamentos fúteis em UTIs, o que considero uma tortura para o paciente”, desabafou.

    A representante do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Maria Rita de Assis Brasil, corroborou a observação de Castilho. Segundo a médica, esse procedimento de serem solicitados exames invasivos e dolorosos para pacientes crônicos ou terminais, é uma prática. “Sempre me questiono, nos plantões, quando recebo um paciente com históricos de doenças terminais, com pedidos de exames que não irão resolver em nada a sua situação”, enfatizou.

    A professora Maria Henriqueta Kruse, que atua na área de ensino na graduação e pós-graduação na Enfermagem, destacou que alguns pontos são fundamentais no atendimento ao paciente de cuidados paliativos. Tanto o paciente quanto os familiares precisam se sentir acolhidos, precisam ser ouvidos e indagados. “Ouço queixas de que os familiares são bruscos, o que é natural, pois o atendimento à saúde não prima pela qualidade. Mas se tivermos um bom acolhimento, se ouvirmos as pessoas, essas pessoas são mansas. Querem apenas ser acolhidas e nós temos que ter paciência para amenizar a dor ou perda”, ressaltou.

    Silvana Teixeira – paciente que venceu um câncer e que atua na liderança do Grupo Despertar, em Cachoeirinha – se enquadrou em dois grupos citados pela médica Julieta Fripp. “De paciente que achou que estava com a vida perdida resolvi atuar em apoio a outros com problema igual e hoje sou uma voluntária e faço acolhimento”, contou.

    Participou da audiência pública, ainda, o médico Santiago Correa, do Projeto Estar ao Seu Lado, de Rio Grande, onde será realizada a segunda reunião da Comissão Especial de Cuidados Paliativos, no dia 31 deste mês, pela manhã. Na mesma tarde, será realizada nova audiência em Pelotas, no Centro de Cuidados Paliativos. Terezinha Gomes, presidente da Abrasus, Arlindo Ritter do Sindiaúde, representantes dos hospitais da Ulbra, Independência, Getúlio Vargas e Tramandaí também estiveram presentes.

    Ao final do encontro, Pedro Ruas destacou que as observações feitas pelos que atuam nessa área tão sensível será de grande importância para a elaboração de uma política voltada aos cuidados paliativos no RS. “Não podemos esquecer que o contingente de pacientes que precisam de atendimento é muito grande, o que nos motiva a buscar soluções”, disse o presidente da Comissão.

    *foto Clóvis de Souza Prates

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