Dossiê inédito sobre o lesbocídio no Brasil é apresentado na Assembleia Legislativa
Entre 2014 e 2017, 126 lésbicas foram mortas no Brasil. A maioria das vítimas tinha entre 20 e 24 anos. E em 83% dos casos o crime foi cometido por homens, que possuíam ou não laço afetivo ou parentesco com a vítima. Os dados, que integram o Dossiê Sobre Lesbocídio no Brasil, compilados pelo Núcleo Inclusão Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foram apresentados na noite desta terça-feira (21) pela pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Suane Felippe Soares, em um evento promovido pela Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa.
O encontro, coordenado pela procuradora adjunta da Mulher, deputada Miriam Marroni (PT), teve a participação de representantes de movimentos sociais e militantes da causa LGBTI, que desejavam conhecer os resultados do primeiro estudo realizado no País e o segundo feito no mundo sobre a morte e o suicídio de lésbicas. Por não haver dados oficiais sobre o lesbocídio e pelo fato de o crime não ser levado a sério pelas autoridades policiais, os dados da pesquisa foram coletado na mídia e nas redes sociais, havendo, portanto, subnotificação. “O trabalho traz luz ao que vem acontecendo por décadas no País, mas é acobertado pelo manto da invisibilidade. Neste momento de profundo retrocesso dos direitos humanos que vivemos, a pesquisa representa mais uma frente de resistência”, declarou Miriam.
Suane explicou que a pesquisa investiga as especificidades da morte e da violência contra as lésbicas com o intuito de fornecer elementos para a elaboração de políticas públicas, pressionar para que as leis existentes, como a Lei Maria da Penha, sejam cumpridas e formar memória que, em sua opinião, é uma “força política importante”. “Não há dados oficiais sobre as lésbicas no Brasil, e a invisibilidade é uma forma de manter os assassinatos, A mídia, as redes sociais, o governo e a sociedade não notificam, não lamentam e não se comovem diante da morte de lésbicas”, disparou.
Segundo ela, o lesbocídio é um termo novo, que se refere ao assassinato de mulheres motivado pela lesbofobia. Ao contrário do feminicídio, o lesbocídio não agrega, predominantemente, características familiares e domésticas. Embora ambos sejam motivados pela misoginia (ódio às mulheres), apenas 34% das lésbicas assassinadas tinham algum tipo de vínculo com seu algoz. “As lésbicas não sofrem só violência doméstica. Sofrem uma multiplicidade de discriminação e violência. Mas, por ser motivado pela misoginia, especialmente, o lesbocídio é um crime evitável”, asseverou.
De acordo com a pesquisa, 55% das lésbicas assassinadas não são feminilizadas, ou seja, não se submetem ao processo de feminilização imposto pela sociedade. Além disso, 72% das mortes ocorreram em espaços públicos e 28% na residência da vítima. Em relação ao vínculo com o assassino, 34% das vítimas tinham algum tipo de vínculo, 30% só conheciam o seu executor e 36% não conheciam.
Já em relação ao método de execução, o dossiê aponta que 47% morreram por disparo de arma de fogo, 23% por facadas, 13% por espancamento, 9% por estrangulamento, 4% por estupro seguido de morte, 2% por atropelamento, 1% por estripamento e 1% por queimadura. “Se morre por ser lésbica no Brasil e se morre muito. E, em muitos casos, as lésbicas sofrem muito no momento de sua morte”, ressalta Suane.
A pesquisa revela ainda que São Paulo é o estado campeão de lesbocídio, concentrando 20% dos casos do País. Em seguida, vêm Ceará e Minas Gerais com 7% cada um, e depois, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, com 5% cada. “Constatamos que a maior parte dos casos ocorre em cidades do interior. Acreditamos que nas cidades interioranas as lésbicas são mais visadas do que no ambiente de impessoalidade dos grandes centros” analisou a pesquisadora.
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